Na nossa vida cotidiana, normalmente percebemos que tudo tem um preço, tudo é negociação. Até na educação dos filhos é comum percebermos: “se você fizer isso, te dou / permito / deixo / concordo…”.
Costumamos dizer que tudo tem um preço ou até “tudo tem seu bônus e seu ônus”.
Já no tempo de Jesus, as “trocas de favores” fazem parte das tentações que Ele sofreu no deserto.
E aqui, gostaria de abrir parênteses: Jesus é tentado a sentir-se dono de tudo que via do alto durante a tentação – assim como as personalidades que surfam do alto das ondas da popularidade e do poder. E Jesus não cedeu aos apelos do tentador.
Cabem neste momento dois pontos importantes de reflexão:
1) Jesus, pela graça de seu Pai e Senhor, já era dono e herdeiro de tudo; apenas, atendendo à vontade do Pai, se fez homem para experimentar a realidade dos homens;
2) a Bíblia não especifica o momento exato da tentação, só o período de retiro no deserto, ou seja, 40 (quarenta) dias; quanto tempo demorou para que o tentador agisse?
Através da graça, não só ao Filho do Homem, mas também a cada um de nós, Deus nos torna seus herdeiros, gratuitamente, não cobrando nada, não barganhando nada conosco. Quem controla nossas decisões – escolher entre a graça do Pai e as tentações – é nosso livre arbítrio.
Através desse mecanismo, que é dom de Deus, acabamos decidindo vários aspectos de nossa vida e, através das consequências de nossas escolhas, vemos traçada a nossa história. Não há como se culpar qualquer outra pessoa pelas escolhas que cada um de nós faz.
São Francisco de Assis, ao ouvir o questionamento da cruz de São Damião, escolheu vivenciar o Evangelho de Jesus Cristo, e o fez, por toda a vida, com alegria.
O Papa Francisco ainda vai mais longe:
“Jesus, enfrentando pessoalmente essas provações, vence por três vezes as tentações para aderir plenamente ao plano do Pai. E nos mostra os remédios: a vida interior, a fé em Deus, a certeza de seu amor… Jesus ao responder ao tentador, não entra em diálogo, mas responde aos três desafios somente com a palavra de Deus. Isto nos ensina que com o diabo não se dialoga, não devemos dialogar, somente se responde a ele com a palavra de Deus.”
Praça São Pedro, 10/03/2019)
Ainda reafirma, recentemente, o que já havia dito, explicitando melhor seu entendimento: “Na sua vida, Jesus nunca fez um diálogo com o diabo, nunca. Ou o afasta dos possuídos ou o condena ou mostra a sua malícia, mas nunca um diálogo. E, no deserto, parece que há um diálogo, porque o diabo faz três propostas e Jesus responde. Mas Jesus não responde com as suas palavras. Responde com a Palavra de Deus, com três passagens da Escritura… Somos chamados a percorrer os caminhos de Deus, renovando as promessas do nosso Batismo: renunciar a Satanás, a todas as duas obras e a todas as suas obras.” (Angelus, 21/02/2021)
Ainda resta algumas perguntas a cada um de nós, cristãos e franciscanos: Qual tentação nos seduziria? Quanto tempo para que cedêssemos à tentação? Quando tentados, qual a nossa resposta?
Não esqueça: somos filhos e herdeiros da graça do Pai na gratuidade!
Um abraço faterno.
Leila Denise