Nossas vidas em missão por Irmã Isabel e Frei Ermelindo

Olá, galera do Conexão! 

O mês de outubro foi totalmente dedicado às missões. E como a missão nunca pode parar, iremos conversar com dois convidados especiais que têm uma forte ligação com a Província de Angola. Angola é a única Província  que faz parte da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil e que está fora do Brasil. Nossos Freis e Irmãs Franciscanas possuem um trabalho missionário em terras angolanas desde 1991, interligando sua jornada de enviar consagrados para lá e receber muitos consagrados aqui. A Irmã Isabel, brasileira, faz hoje um trabalho importante lá e Frei Ermelindo, Angolano, tive o prazer de conhecê-lo atuando aqui no Brasil. Vamos conhecer um pouquinho das suas realidades missionárias?

STALKEANDO

Quer stalkear? O #ConexãoFraterna te dá o @:
facebook: @irmaisabelsimeoni

Nome:  Irmã Isabel Cristina Simeoni

Idade: 50 anos

Profissão: Religiosa Consagrada Irmãs Franciscanas de Ingolstadt.

Música preferida: Muitas, mas aprecio mesmo uma moda de viola e tudo o que é raiz.

Filme/série: Escritores da Liberdade /A Cabana

Livro: O silêncio de Maria/ Cristo de Clara/Alguns escritos da atualidade do Francisco/Bíblia.

Personalidade inspiradora: Não tenho nenhuma extraordinária, mas a minha mãe é especial.

Fonte: Acervo Pessoal

STALKEANDO

Quer stalkear? O #ConexãoFraterna te dá o @:
Instagram: @ermelindo_ francisco

Nome:  Frei Ermelindo Francisco Bambi,OFM

Idade: 34 anos

Profissão: Religioso Franciscano, OFM

Música preferida: Sem preferência, desde que a mesma seja boa

Filme/série: O príncipe da Pérsia, as areias do Tempo

Livro: Bíblia Sagrada, Escritos de São Francisco, Literatura.

Personalidade inspiradora: São Francisco de Assis e minha mãel.

Fonte: Acervo Pessoal

Meus queridos, bem-vindos ao Conexão! Para começar façam uma breve apresentação, contando seus países de origem e o local onde estão atuando hoje.

Irmã Isabel: Sou brasileira. Desde agosto de 2019 estou em Luanda/África. Aqui como grande missão tenho a formação de jovens que dão os primeiros passos na vida Consagrada.

Frei Ermelindo: Sou de Angola. Angola é um país grande e belo, faz parte do continente Africano, pela sua extensão, está entre os maiores países de África. Tem grandes florestas onde a luz do sol não penetra, savanas imensas cobertas de capim e desertos onde só há areia e pedra.

Atualmente eu trabalho na Província/estado de Malange, no Seminário Franciscano Monte Alverne. Minha missão, portanto, é de ajudar os jovens a abraçar o carisma franciscano. Temos feito também celebrações e assistência pastoral nas paróquias da Katepa e Kangandala.  

Nota da produção: Galera, já estão sentindo como vai ser rica essa troca de experiência destes dois gigantes missionários?!

IRMÃ ISABEL E FREI ERMELINDO, COMO É TER SIDO IRMÃ/ FREI EM MISSÃO EM UM PAÍS QUE NÃO É DE SUA ORIGEM? QUAIS AS MAIORES DIFICULDADES QUE VOCÊS ENCONTRARAM? 

Irmã Isabel: Creio que dificuldades encontramos cada dia, independentemente de onde estamos. A minha, ou um dos meus, foi o clima, cheguei num período de extremo calor, aqui em Luanda faz muito calor. Nos primeiros dias, foi a adaptação do fuso horário, aqui são quatro horas a mais que no Brasil. Depois as coisas se assentam.

Frei Ermelindo: Quando se sai da zona de “conforto” para abraçar novos desafios, nossa vida muda completamente. Ter morado no Brasil, por 5 anos, foi uma experiência ímpar na minha vida. Foi um tempo de muito aprendizado; tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas (essa entrevistas dada ao Conexão Fraterna é fruto da minha estadia aí); vi o mundo em outras perspectivas; fiz muitos amigos. Brasil e Angola têm alguns traços culturais comuns, isso me fez reviver o que eu já vivi aqui. Os dois países têm também algumas diferenças, e isso me fez compreender que cada lugar do mundo é um lugar! 

Nota da produção: Eu, Vitória, sempre quis saber como é ser missionária. Saber para além dos nossos limitados dias de missão, acho que o primeiro impacto das realidades e de culturas diferentes sempre é desafiador, né?! Obrigada por compartilharem conosco, que apesar das dificuldades, a gente se adapta e cria muitos laços fraternos.  

QUAIS DIFERENÇAS FORAM MAIS MARCANTES, O QUE MAIS TE TOCOU NESSA JORNADA?

Irmã Isabel: Vou destacar três: culinária, atos fúnebres e fé. Algumas na área da culinária: pratos totalmente diferentes e saudáveis, mas que para a maior parte dos brasileiros são desconhecidos como alimentos, ou nós descartamos, ao menos da minha cultura familiar. Ex: ramas de batata doce, folhas de mandioca, sementes de abóbora etc…

Outra coisa, é como a morte é vista por aqui. Enquanto o corpo do morto fica na morga, a família e amigos reúnem-se para “fazer festa “, lembrando a memória do ente querido, isso, pode ser de três, cinco, até quinze dias ou um mês, vai depender da situação financeira da pessoa, da cultura que ela pertence ou ainda se necessita esperar um familiar que vem de outra província, igual ao Estado para nós brasileiros. Existe também uma contribuição financeira neste momento que é feita pessoal ou pelo grupo que a pessoa faz parte dentro dos movimentos da Igreja.

A fé, como ela é vivida em alguns aspectos. As celebrações das missas, muitas vezes são cantadas em línguas tradicionais, assim que chegamos não entende-se nada ,mas aos poucos vamos nos inculturando. Também o como as pessoas dirigem as imagens dos Santos fazendo gestos como se também estivessem conversando.

Frei Ermelindo: Como já falei, nessa jornada, encarei poucas diferenças, mas aqui vale realçar que o Brasil é mais do que um país, “é um continente”. Portanto, me chama atenção a diversidade cultural do povo Brasileiro. O Brasil, acredito, é o país do futuro. Todos, apesar das dificuldades, conseguem conviver. Outra diferença que encontrei é o modo de ser Igreja… a Igreja do Brasil é comprometida com a causa dos mais necessitados, isso é bastante positivo. Essa é uma forma concreta de viver o evangelho.

Nota da produção: é muito legal ver essa troca acontecendo, ambos vivenciaram realidades diferentes. Obrigada por engrandecerem essa entrevista em conhecimento. 

QUAIS OS PRINCIPAIS PROBLEMAS SOCIAIS QUE VOCÊ ENCONTROU? ESSA ATUAÇÃO DAS IRMÃS/FREIS ESTÁ MUDANDO A REALIDADE NO QUAL ESTÃO INSERIDOS?

Irmã Isabel: Aqui temos inúmeros problemas sociais, ao meu ver, entre elas: a falta de água, saneamento básico, educação e saúde. Enfim, uma lista que segue dentro dos princípios básicos do cuidado do ser humano. Um ser íntegro e integral, merecedor de coisas simples mas de suma importância para a “espécie” da qual nós fazemos parte. Como Missionárias, não podemos fazer algo grandioso, mas somos a “gota no Oceano”, assim caminhamos.

Também acredito que pela educação podemos transformar vidas e pensamentos, nossa missão como congregação é ” Transformar o Vale de lágrimas em Vale de Graça “.

Frei Ermelindo: As maiores dificuldades que vi no Brasil, e aqui em Angola não é diferente, são a pobreza, o racismo, a exclusão social e o preconceito. Acredito que, se forem criadas políticas públicas nesses campos, nossos países serão verdadeiras potências mundiais. Tudo que vivi no Brasil foi um aprendizado. Por isso, é importante mudar a mentalidade de nossos jovens e de todo povo em geral, para criar um mundo de Paz e Bem!

Nota da produção: Frei/ Irmã compartilhar sentimentos que vocês presenciaram de desumanização, para com o outro ou a si mesmo, e colocar em palavras, deve ser muito difícil, por isso, queridos leitores, a contribuição para esse mês missionário é por cidadania humana. Ajudem, rezem e se puderem vão em missão.  

HOJE, COM A PANDEMIA, VOCÊS ESTÃO A FRENTE DE PROJETOS SOCIAIS? O QUE MAIS DIFERE DE ANTES DA PANDEMIA?

Irmã Isabel: Mesmo com a pandemia continuamos nos mesmos projetos que é Educação. O que mais se alterou neste contexto é que assumimos outra escola a qual eu sou responsável, de ensino primário.

As maiores alterações são o número de pessoas que aumentam a cada dia a bater em nossas portas e como eles dizem “estou a fome”. E muitas vezes não conseguimos ajudar a todos de maneira ampla

Frei Ermelindo: O covid-19 mudou completamente o mundo. Destruiu todos os nossos esquemas mentais. O mundo já não é o mesmo, tudo mudou! Todos nós – uns mais outros menos – fomos afetados pela pandemia, mesmo que não tenham sido contaminados pelo vírus.

Eu não estou envolvido diretamente em nenhum Projeto Social, mas como trabalhamos com pessoas é impossível não fazer alguma coisa neste campo.

A covid-19 veio mostrar ao homem que ele não é o dono do mundo. Veio mostrar que é preciso viver harmoniosamente com todos os seres. Veio “recordar” ao homem que ele não é eterno, é mortal!

Hoje podemos dividir a história da pós-modernidade em duas partes: o mundo antes da pandemia e o mundo depois da pandemia. É verdade que muitas pessoas perderam a vida, muitos ficaram desempregados, enfim, muitos perderam o sentido da vida, lamentamos por isso, mas acima de tudo, a covid-19 veio tentar tornar o ser humano mais humano.

Nota da produção: esse “Estou a fome” da Irmã ficou forte no meu coração, assim como os milhões de mortos da Covid bem lembrados pelo Frei. São muitas as sequelas realmente.

E agora falando um pouco mais das suas vivências, COMO SE DÁ A TRANSFERÊNCIA DE HÁBITOS E COSTUMES? ESSAS CONEXÕES FORTALECEM A INTEGRAÇÃO DE CONSTRUIR PONTES E DERRUBAR MUROS?

Irmã Isabel: Sempre tem quem esteja bem aberto a essa “novidade “, mas, as pessoas de maneira geral tem aquilo que é seu como hábito e costume. Uns se abrem, outros nem tanto, com os da vida consagrada existe uma maior abertura quando pensamos na grande troca, por estarmos juntos, existe a maior troca de experiências. Já com outras pessoas, fica mais restrito, mas eles também gostam da nossa culinária, a minha experiência favorece essa troca, com alguns que já fizeram experiências em outros países. Percebe que existe uma “restrição” e uma pelo processo de privação pelo contexto vivido ainda pela guerra, apesar de o cessar fogo ter parado a muitos anos.

Frei Ermelindo: Aqui em Angola, desde os primórdios, os conhecimentos eram transmitidos de geração em geração por meio da oralidade. Os detentores desses conhecimentos e experiências são os mais velhos. Esses mais velhos são “venerados” e respeitados, são chamados de “bibliotecas vivas”. Quando morre um mais velho, morre uma biblioteca.

Hoje, portanto, com a modernidade, temos encarado muitas dificuldades em harmonizar o velho com o novo. Em muitas situações, em vez de criar pontes criam-se muros. Por um lado, os mais velhos acham que os jovens não sabem nada. Por outro lado, os jovens acham que o conhecimento dos mais velhos é arcaico. Essa relação é muito tensa e cria muros. O certo seria que todos possuíssem a experiência/sabedoria dos anciãos e a força/sonhos dos mais jovens.

IRMÃ ISABEL E FREI ERMELINDO, OBRIGADA MAIS UMA VEZ PELA PARTICIPAÇÃO. JÁ ESTAMOS CHEGANDO AO FIM DE NOSSA ENTREVISTA, POR FAVOR,  DEIXEM UMA MENSAGEM PARA OS LEITORES DO CONEXÃO.

Irmã Isabel:Ter a possibilidade de escrever neste canal é uma graça. Pensar no mês missionário e perceber quantas pessoas, deixam sua família, casa, país etc…para conhecer outra realidade. A experiência apesar de desafiadora e enriquecedora. Então, você que está lendo, pense na possibilidade! Seja também um ou uma Missionária, na sua terra ou em outras terras.

Enfim, aos que me conhecem digo que tenho saudades. Aos que não conheço, quem sabe teremos a possibilidade um dia estarmos juntos. Estamos em Conexão. Paz e bem!

Frei Ermelindo: Em primeiro lugar, quero agradecer a Deus pelo dom da Vida. Em segundo lugar, agradecer ao Conexão Fraterna pela oportunidade que me concedeu. Minha mensagem para os leitores é: não percamos a esperança diante das vicissitudes que o mundo está vivendo. Estamos numa época de mudança. Depois dessa tempestade o sol voltará a brilhar. Não percam a esperança em dias melhores. Jovens, com a cabeça nas nuvens, sonhem com os pés no chão e caminhem ao encontro do vosso futuro.  


Irmã Isabel e Frei Ermelindo, que prazer tê-los conosco no Conexão Convida. Acompanho o trabalho missionário de vocês e mostrá-los, como dois pontos de vista, as suas experiências missionárias é gratificante. Principalmente no que se trata desta conexão Brasil-Angola. Obrigada por essa oportunidade e pelas palavras de incentivo, apesar dos tempos difíceis que estamos enfrentando. As missões trazem alento às necessidades do povo deste tempo. Que todos aqueles que têm fome, possam ter dignidade em suas mesas, façamos neste momento uma prece, uma contribuição. Obrigada novamente Irmã Isabel e Frei Ermelindo, que Deus os abençoe e a todos os leitores do Conexão Fraterna.

Um abraço gente, Paz e Bem!

Ana e Vitória

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