Fazendo uma breve reflexão sobre o Evangelho de Marcos (3,20-35), fiquei pensando em algumas coisas que eu gostaria de partilhar com vocês! Nas redes sociais nós encontramos a expressão “hater”. Do inglês, traz o sentido de “aquele que odeia, que espalha ódio”. Ao perguntar para um jovem o que ele entendia por essa palavra ele também definiu como “pessoas más da internet”.
Mas fiquei pensando que os “haters” não são algo que nasceu com o mundo digital. O ato de odiar alguém já surge muito antes. Um exemplo ocorre no Evangelho de Marcos (3,20-35): Jesus foi acusado de ter um pacto com Satanás pelos “haters” de sua época. Eles eram pessoas, assim como os que espalham ódio na internet hoje, que buscavam por meio de suas acusações reduzir o ser humano alvo de suas críticas a nada. Eles não estavam contentes com um pobre judeu da Galileia falando de amor ao próximo, perdão aos pecadores, expulsando espíritos maus, curando em dia de sábado, se dizendo filho de Deus: “quanta blasfêmia” – diziam eles!
Os “haters” de ontem e de hoje agem na mesma lógica: não são capazes de ver as potencialidades dos seres humanos. Apenas defeitos, ou fazem da outra pessoa um monstro apenas por discordarem do seu ponto de vista. Falta a eles o diálogo, a capacidade de perceber a riqueza do outro, que mesmo pensando diferente de mim, tem a liberdade de ser assim.
Além disso, hoje nós gostamos de odiar: sentimos prazer quando ouvimos que o bandido foi morto pela polícia nos programas sangrentos de fim de tarde, amamos quando o político que não gostamos é alvo de violência, descemos correndo do helicóptero comemorando a morte de um sequestrador, como se matar fosse o prêmio de uma sociedade saudável. Nenhum país que entrou em guerra saiu melhor do que entrou. Vivemos uma guerra em pedaços, como diz o Papa Francisco.
Mas como Jesus combateu os “haters”? Ele poderia ter pego a multidão que estava ao seu redor, chamado a galera e mandado dar uma “coça” nos odiadores de plantão. Seria um santo remédio, não? Mas Jesus procurou dialogar, evidenciou um outro ponto de vista. Argumentou, questionou eles, demonstrou por gestos o jeito certo de ser gente! Mas os “haters” não se convenceram, e o puseram numa cruz: e até lá Jesus os perdoou.
Jesus não quer com isso que sejamos coniventes com tudo, especialmente com o erro. Podemos discordar, buscar justiça, procurar fazer acontecer a paz social… Mas se ao fazermos isso achamos que devemos matar ou destruir quem pensa diferente de nós, ou chegarmos até mesmo a matar o diferente, nós somos “haters” também. Se “nos livrarmos” dos “haters” a partir de seus métodos, seremos nós “haters” também. Em defender o que é essencial, pecaremos contra a nossa essência.Por isso, o convite é que sejamos “lovers”, embora seja difícil sê-lo. Não é uma coisa pronta, dada. Ser “lover” é um processo que leva a vida inteira. Tenho tentado ser assim, especialmente com algumas autoridades que temos por aí que despertam o pior de mim em meus pensamentos “haters”. Mas não posso me deixar levar por essa onda. O ódio só destrói o coração humano. Quando passamos raiva, e alimentamos ela constantemente, a nossa saúde acusa: a pressão sobe, sentimos tontura, cansaço, desânimo. Mas quando somos capazes de realizar gestos de amor e bondade, como o perdão e o diálogo, o nosso coração se enche de alegria, de gratidão. Onde houver “hate”, que eu leve o “love”.
Frei Gabriel Dellandrea, OFM
Ilustração: Frei Fábio Melo Vasconcelos @ilustração_franciscana