Acompanhando os noticiários dos últimos dias, excetuadas as notícias das Olimpíadas com suas ótimas histórias de vida e/ou superação, e depois de uma longa conversa, há um tempo, com alguém que se diz ateu (ainda que criado pela família como católico praticante), me peguei pensando sobre a herança de Deus em nosso meio, o Reino que Jesus Cristo anunciou – repleto de amor, de misericórdia, de compaixão, de empatia com o próximo.
A esse ateu, naquela oportunidade, que me questionou o porquê de Deus permitir tantas coisas tão contrárias aos ensinamentos de Jesus Cristo, lembro de ter respondido que “Deus nos deu o livre arbítrio” e que “se Ele não permitisse nossos erros, estaria sendo autoritário”, inclusive permitindo o desequilíbrio entre “o Bem e o Mal”, defendido desde o primórdio dos tempos.
Ainda naquela conversa, enfatizei que, no meu entendimento, o grande “pulo do gato da Igreja Católica é o livre arbítrio; porém, com o declínio da influência da Igreja e a grande “oferta” de temas oferecida pelas mídias, essa instituição milenar não sabe como utilizar nem o que fazer para tornar o livre arbítrio atrativo para o católico – ainda que isso possa parecer extremamente contraditório, pois é em nome dele que a debandada dos fiéis normalmente é justificada…
São Francisco de Assis nos ensinou que é nas coisas simples, na criação, que podemos encontrar a face de um Deus misericordioso e acolhedor; pois “Não há nada a temer que morram de fome os filhos e herdeiros do Rei dos céus, os quais, nascidos por virtude do Espírito Santo, à imagem de Cristo Rei, de uma mãe pobre, serão gerados pelo espírito da pobreza numa religião sumamente pobre. Pois se o Rei dos céus promete a seus seguidores a posse de um reino eterno, quanto mais seguros podem estar de que lhes dará também todas aquelas coisas que comumente não nega nem aos bons nem aos maus!”
Mas ainda podemos pensar que aquele Francisco não conhece a realidade de um tempo globalizado, influenciado pelo poder da tecnologia e da informação digital, permeado por desastres naturais e doenças (como a COVID-19) que transformam vidas por tragédias pessoais e coletivas, agravadas, em alguns casos, por governantes não exatamente comprometidos com o bem comum…
Aí, nos deparamos com outro Francisco, aquele que optou por este nome ao ser escolhido como papa, nos falar sobre a presença do Reino em nosso meio, nos dias atuais: “Ouviremos então que a prece do ‘Pai-Nosso’ responde. Repetirá mais uma vez aquelas palavras de esperança, as mesmas que o Espírito colocou como selo da inteira Sagrada Escritura: ‘Sim, venho depressa!’: esta é a resposta do Senhor. ‘Venho depressa’. Amém. E a Igreja do Senhor responde: ‘Vinde, Senhor Jesus’ (cf. Ap 2, 20). ‘Venha a nós o vosso Reino’ é como dizer ‘Vinde, Senhor Jesus’. E Jesus responde: ‘Virei depressa’. E Jesus vem, à sua maneira, mas todos os dias. Tenhamos confiança nisto. E quando rezarmos o ‘Pai-Nosso’ digamos sempre: ‘Venha a nós o vosso Reino’, para sentir no coração: ‘Sim, sim, venho, e venho depressa’.” (06/03/2019, Audiência Geral)
E vale frisar uma frase específica, neste caso: “E Jesus vem, à sua maneira, mas todos os dias.” Ele vem não só pela palavra dos consagrados (sacerdotes e freiras), mas também dos leigos, pessoas que convivem conosco em nossa vizinhança, no nosso trabalho, nas reuniões da comunidade (sejam sociais ou do exercício da fé), às vezes com o rosto conhecido, às vezes com um rosto nunca visto, que nos possibilitam lembrar da herança do Reino que ele nos confiou.
Cabe a nós, cristãos e/ou franciscanos, reconhecer este Cristo que nos rememora a herança do Reino que nos foi confiada, assim como os discípulos, na refeição após a Páscoa, reconheceram o Ressuscitado através da partilha do pão, exercitando os valores por Ele extremamente vivenciados, pregados e difundidos: o Amor e a Misericórdia de um Deus que é Pai, criador, porém um Pai que dá a liberdade aos seus filhos de escolherem o seu caminho, compartilhando ou não o Reino por Ele deixado a nós.
Paz e bem a todos.
Abraço fraterno, Leila Denise !