Desde o Antigo Testamento, o Messias, prometido por Deus, era aguardado pelo povo. Por isso, quando a voz de João clamou no deserto dizendo, sem medo, “Convertam-se e acreditem na Boa Notícia” (Mc 1,14), muitos foram os que ouviram. E é importante frisar que, já neste tempo, Jesus estava no meio do povo.
Quando Jesus iniciou sua vida pública, sempre esteve no meio do povo, e priorizou ensinar o povo: “Vamos para outros lugares, às aldeias da redondeza. Devo pregar ali também, pois foi para isso que eu vim” (Mc 1,38). Mas não esquecia de seu Pai, por quem tudo se fazia: “Vá para casa, para junto dos seus, e anuncie para eles tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por você” (Mc 5,19).
Após a morte e a ressurreição do Cristo, o apóstolo Paulo escreveu aquela frase que me instigou, inspirou e que hoje utilizo como título deste texto: “Ai de mim se eu não evangelizar!” (1Co 9,16). Ela, a mim, lembra da responsabilidade que tenho com este espaço, e que minha prioridade deve ser não a minha vontade, os meus gostos, mas aquilo que Deus espera de mim, como cristã e como franciscana.
E como posso traduzir este “evangelizar”? O que posso fazer, como leiga, inserida na comunidade do povo de Deus, para tornar a evangelização uma realidade em minha vida?
Dias atrás, ouvi um depoimento que dizia que “Não podemos guardar para nós aquilo que recebemos”. E os ensinamentos que recebemos do próprio Jesus Cristo, repetindo o profeta Oséias, “Quero a misericórdia e não o sacrifício” (Os 6,6 e Mt 12,7), nos levam a pensar: o que eu realmente tenho praticado, a misericórdia ou o sacrifício?
Ouvi, dias atrás, na internet, uma frase que gostei muito: “Evangelização significa transbordar de amor sobre a humanidade… é um Pentecostes de amor”. Assim, creio que seja quase lógico dizer, dentro desta linha de raciocínio, que evangelizar é praticar o amor e a misericórdia.
É difícil colocar em prática o ensinamento de São Francisco “Pregue o Evangelho todo o tempo. Se necessário, use palavras”, ainda mais em um tempo onde a polarização, não só política, mas de sentimentos, é a atitude da moda. Entendo, porém, que, como franciscana, tenho a obrigação e a necessidade de, a cada dia, a cada ato, tentar implementar o sentimento do amor e da misericórdia não só na minha vida, mas nos ambientes onde convivo. Mas, assumo, é complicado exercitar esses sentimentos, principalmente quando nossa natureza humana nos impele de exercitar a “Lei de Talião”, há muito mais tempo presente em nossa história… Já dizia o Papa Francisco que “Falar de misericórdia é diferente de vivê-la” (2017) …
O Papa Francisco, ainda, nos traz um belo ensinamento: “O que torna viva a misericórdia é o seu dinamismo constante de ir ao encontro de quem precisa e das necessidades de quem se encontra em dificuldade espiritual e material. A misericórdia tem olhos para ver, ouvidos para escutar e mãos para ajudar” (2016), até porque, segundo ele, “A onipotência de Deus se expressa principalmente em sua misericórdia e no perdão” (2017).
A nós, cristãos, e em especial aos franciscanos, resta a responsabilidade de repassar a todas as gerações vindouras a semente do “evangelizar”, até para que essa mensagem do Cristo de amor e misericórdia não se perca em meio a tantos sentimentos que os contradizem, usando o exemplo de São Francisco de Assis para nos orientar e inspirar a vivência e a propagação desses sentimentos que são a base do Reino que Deus nos prometeu, o Cristo nos trouxe e o Espírito Santo nos permite exercitar.
Fraternalmente,
Leila Hack