Sexualidade Líquida: “O prazer e o vazio”

Posted by

Segundo o dicionário, “stalkear” é uma gíria do idioma português, baseada na palavra inglesa stalker, que costuma ser usada para se referir ao ato de “espionar” as atividades de determinada pessoa nas redes sociais. E é claro que a equipe do Conexão Fraterna tá sempre “espionando” tudo o que acontece por aí. Por isso, fique ligado, você pode ser o próximo “Stalkeado” 😉

STALKEANDO

Quer stalkear? O #ConexãoFraterna te dá o @:
Instagram: @elisamlima9

Nome: Elisa Maria Lima

Idade: 44 anos

Profissão: Gastronomia, Turismo e administração

Instagram: @elisamlima9

Música preferida: Strani Amore

Filme ou série: Anne with E

Livro: Jesus Cristo Libertador de Leonardo Boff

Pensamento inspirador: Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada”. (Clarice Lispector)

Personalidade inspiradora: Papa Francisco, entre tantos outros

Relação com o tema: Acompanha juventudes da cidade de Lages há anos, sendo aconselhadora e apoiadora de suas causas.


Falar sobre sexo sempre foi um tabu. Mas, atualmente, com o acesso facilitado a informações, o jovem tem acessado um número muito maior de abordagens sobre o assunto. Porém, mesmo com as informações nas mãos, poucos conseguem filtrar o que é bom de fato. Ainda não há um debate aberto com orientações voltadas para formação sexual do indivíduo, a própria expressão educação sexual tem sido rechaçada por algumas frentes da sociedade. E assim, as redes sociais e mídia, acabam impondo alguns padrões não saudáveis, como: a busca incansável por prazer, o machão pegador, a perfeição da beleza, a performance perfeita, entre outros.

O termo modernidade líquida foi desenvolvido pelo sociólogo Zygmunt Bauman e diz respeito a uma era (a que vivemos) em que as relações sociais são frágeis e maleáveis, como os líquidos. Na modernidade líquida, o sexo é mero instrumento de prazer e não deve ser medido qualitativamente, mas quantitativamente: quanto mais frequente e com o maior número de pessoas possíveis, melhor. Quanto menor o vínculo entre parceiros sexuais, melhor. 

Não há uma associação entre o sexo e ao sentimento. Tratam o sexo como consumo, a relação com o prazer. Assim existem as relações descartáveis: o jovem tem em sua “prateleira” suas diversas opções de satisfação de prazer sexual, pega, usa e depois descarta, sem nenhum constrangimento.

Para falarmos mais sobre o assunto, convidamos nossa amiga Elisa Lima, de Lages (SC). Ela, com grande bagagem de acompanhamento dos jovens ao longo de anos, a partir de suas experiências pode nos oferecer uma leitura de como é a relação do jovem com sua sexualidade.

CONFIRA NOSSA ENTREVISTA

MARI: Você tem uma longa trajetória de acompanhamento de jovens e com eles tem acompanhado diversas histórias relacionadas ao sexo. O que os jovens de maneira geral pensam sobre o assunto sexo?

ELISA: Bem, o pensamento da juventude se expande muito, porém na maioria dos que acompanho, veem o sexo como complemento de uma relação afetuosa, mas também não se desprendem de algo passivo, sem compromisso. O que nos preocupa em alguns momentos, pois podem correr alguns riscos.

MARI: A educação sexual é, em geral, um tabu na relação entre pais e filhos. Assim, muitos jovens acabam buscando informações na internet que podem oferecer vários conceitos falhos como o machismo, a alta performance, o príncipe encantado, entre outros. Como você avalia essa situação?

ELISA: Realmente, muitos de nossos jovens não tem essa liberdade de falar abertamente sobre sexo com os pais, quando se tem alguém mais próximo ou colegas, é onde se descobrem e partilham os seus “conhecimentos”. Acredito que essas informações, podem trazer algumas confusões enquanto ao gênero, quanto aos sonhos de como se dá uma relação, como você citou, a busca do príncipe encantado. Estamos vivendo em um momento que tudo é curtição, tudo é muito descartável e vulnerável, entretanto essas mesmas facilidades de contato, trazem muitas feridas, os sonhos se tornam frustrações e incompreensões, em alguns casos, sentimentos de culpa que podem trazer grandes consequências emocionais.

MARI: Os jovens têm buscado as relações sexuais cada vez mais cedo e sem saber filtrar as informações recebidas por meios dúbios, acabam perdendo a virgindade ainda despreparados, gerando violência contra si e aprendendo a viver sob essa cultura, talvez por uma pressão social. Na proximidade com os jovens você percebe isso?

ELISA: Como citei acima, hoje encontramos muita vulnerabilidade, a necessidade muitas vezes de ter novidades pra contar, ou ser aceito no grupo, mesmo grupo juvenil ainda existe, acabam embarcando em uma relação às vezes sem ao mesmo ter atração ou apostando em outras por paixões não correspondidas. As relações sexuais estão acontecendo cada vez mais cedo, por conta dessa procura, muitas vezes para não ser um “peixe fora d’água” da turma, e, muitas vezes por carência mesmo. Outra questão que também traz um pouco de preocupação, é quando assumem a homossexualidade, quando se descobrem e o modo como compartilham seus sentimentos e opções para família. A busca desenfreada por um amor ou por ser aceito, às vezes, acaba fazendo com que se envolvam em situações até mesmo de violência. Quando acompanhamos o processo, sabemos que além de libertador é muito doloroso, pois em alguns casos tem preconceito de si mesmo, então buscam se descobrir no outro.

Elisa Lima durante a preparação da MFJRio em Petrópolis (RJ) (2019). Foto: Frei Augusto.

MARI: Para uma grande maioria, não há uma associação entre o sexo e ao sentimento. Tratam o sexo como consumo, medido quantitativamente e não qualitativamente. Assim, existem as relações descartáveis: o/a jovem tem em sua “prateleira” suas diversas opções de satisfação de prazer sexual, pega, usa e depois descarta, sem nenhum constrangimento. Esse é o conceito de sexualidade líquida afirmada por Zygmund Bauman. O que você pensa sobre isso?

ELISA: Eu acredito que a nossa geração tem uma parcela de responsabilidade nisso, lutamos por liberdade, mas também descobrimos um pouco da libertinagem. Não significa que seja tabu, porém essa busca desenfreada por liberdade, desencadeou isso. A questão do estar no hall dos mais peguetes ou mais pegados, parece que nos dias atuais, isso é questão de orgulho, status. O termo “pegar” se tornou muito comum, assim como largar. Nas rodas de conversa, rola um termo “pegar sem se apegar”, a gente ouve tanto que às vezes até nós mesmos repetimos, para talvez poupar alguém de algum sofrimento. Mas enfim, o bom é que temos a confiança de muitos e assim podemos auxiliar e orientar em algumas situações mais preocupantes.

MARI: A Igreja Católica evoluiu muito os conceitos sobre sexualidade e a forma de abordar o tema. Temos documentos orientando sobre o cuidado com nossa castidade de forma pragmática, como o Catecismo da Igreja Católica e o Humanae Vitae, de Paulo VI. Mas também vimos recentemente o Papa Francisco com seu jeito amoroso, no documento pós sinodal Christus Vivit destinada aos jovens, afirmando: Deus nos criou sexuados, Ele mesmo criou a sexualidade, que é seu dom, e, portanto, “sem tabus”. É um dom que o Senhor dá e tem “dois propósitos: amar-se e gerar vida.” Como nós, acompanhadores da juventude, podemos aconselhar os jovens que nos procuram sobre a descoberta da sua sexualidade (relações sexuais)?

ELISA: O que buscamos é ter esse olhar carinhoso e atencioso, pois se somos procurados, significa que somos escolhidos para sermos aconselhadores e também para ouvir. Muitas vezes temos dificuldades, pois nem tudo é tão simples como apenas falar. Qualquer aconselhamento que venha acompanhado de julgamento, pode criar muitas feridas, existem palavras que machucam, gestos que maculam, mesmo nesse tempo em que tudo é “permitido”, existem corações que buscam alento através do nosso ouvir e do nosso abraço, existem gritos internos de dor, de medo, de não se conhecer. Tentamos ser amorosos, mas isso não significa que as orelhas não são puxadas ou que não chamamos à realidade. Em algumas revelações, buscamos entender o que está ocasionando esse vazio, esse sentimento de solidão, essa busca “sem compromisso” do sexo. Mas, também já ouvimos choro depois desses atos. Não estamos aqui para julgar, mas para indicar o caminho. Que busquem em si a sua essência, que lembrem que seu corpo é templo, é vida, precisa de cuidados de amor próprio. É necessário se conhecer e se amar para que em uma relação possa amar o outro com o respeito devido. Cada qual escolhe a sua forma de amor, mas que busquem viver de verdade, não somente o clima do momento, isso pode trazer tantos transtornos e decepções. Sem falar nas doenças e na própria violência que gera consigo mesmo. Sem consciência, o vazio só aumenta. É muito importante as juventudes entenderem que a Igreja os ama, os acolhe da forma que são, o Papa ama a cada um e cada uma, mas também quer que desperte o amor fraterno, a pureza do amor juvenil, o enamorar-se, o preparar-se para um namoro e etc. Além de parceiros é preciso que sejam companheiros para juntos construírem seus sonhos.

Dica final para galera bombar com o tema:

Amada juventude, amamos muito vocês e queremos vê-los felizes e realizados! Se amem mais, se conheçam mais, vejam no outro sua imagem e semelhança e se cuidem muito. Amo vocês” (Elisa Lima).

No próximo mês teremos entrevistas falando sobre temas relacionados com a sua vida. Quem sabe você não é o próximo? Aproveite e conte para nós o que achou da nossa nova coluna.

Entre em contato pelas redes sociais do Conexão Fraterna!


Esta coluna foi produzida por Mariana Rogoski e editada por Frei Augusto Luiz Gabriel.

Deixe uma resposta