Neste mês de outubro celebramos a Solenidade de São Francisco de Assis, o santo universal. E é por isso que a coluna do “Em Fraternidade” deste mês, recebe com muita satisfação Frei Vitório Mazzuco, já conhecido entre os jovens franciscanos, para falar sobre um santo que nasceu no século XIII, com cabeça de século XXI.
Natural de Campo Limpo Paulista (SP), Frei Vitório ingressou na Ordem dos Frades Menores no dia 20 de janeiro de 1973. Mestre em Teologia com especialização em Teologia Espiritual na Pontifícia Universidade Athenaeum de Roma, Itália, atualmente está a serviço da Frente de Evangelização da Educação da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil.
Segundo Frei Vitório, São Francisco de Assis procurou ser silencioso, mas sua conversão foi o maior berro. “Produziu conhecimento em rede escrevendo cartas e outros escritos. Da conexão a comunhão, ficou um jovem religioso sem ser um mala”, revelou.
“Andou conversando com muçulmanos e globalizou relações de diálogo através de crença e fé. Chama que chama todos para serem otimistas! E no final da vida, Deus tatuou nele as chagas do Amor! Lacrou! Negou o auge, sendo o Menor dos Menores”, destacou o religioso.
LEIA O TEXTO NA ÍNTEGRA
Francisco de Assis começou a dar uns rolês diferenciados na sua vida entre os 19 e 21 anos, portanto muito jovem. Como todo jovem tem anseios de meter o pé dos limites da casa dos seus ‘véios’. Era baladeiro, gostava de agitos nas tabernas e nas praças. Tinha dinheiro para esbanjar porque o pai era mó paizão rico. Não faltavam os parças para as serenatas, pois era amigo dos amigos e líder. No primeiro momento, os sonhos para ele eram os sonhos de seu pai. Entre cerveja, vinho e tábua de frios andou colocando grilo na cabeça da galera, dizendo que ia sair de casa, para andar militando nos ideais cavalheirescos.
Como todo jovem era introspectivo e social, alegre e livre, simples, desengonçado, amplo e generoso. Não gostava muito de etiqueta e convenções e outras frescuras. Não era afeito aos estudos, mas também não era um ‘ignorantão desinformado’. Estava antenado e clicado em tudo o que acontecia em Assis. Com os seus companheiros tinha uma linguagem muito comum entre eles, mas com as pessoas todas tinha uma postura elegantemente nobre. Não era de cultivar um jeito forçado de ser, era natural. Não gostava da guerra, mas teve que pegar em armas pois foi recrutado para lutar no conflito entre Assis e Perugia, mesmo quando a juventude de sua cidade desaprovava a violência. Preso em combate ficou um ano no presídio de Perugia e pegou malária, foi o maior perrengue.
Era um poeta sem saber direito o que era poesia. Conversava com tudo e com todos; e o pessoal da época achava estranho ele falar com os animais. Falava a verdade na cara das pessoas, mas com educação. Simpático, mas não bonito. Humorado e não angustiado. Tinha tanta energia que parecia uma fonte inesgotável de criatividade. Quando era ‘patricinho’ andou remendando roupa nova colocando trapo velho, e até fez buracos como nos jeans griffados de hoje. Chamado de louco nunca fingiu demência, tinha é excesso de energia.
Gostava de trilhas nas florestas e montanhas. De vez em quando adentrava uma caverna. Dançava e cantava nas estradas, uma street dance com violinos imaginários. Usava roupas vistosas e às vezes as trocava para algo bem simples, tipo moda riponga fashion. Transparente demais! Sua presença jovem em Assis incomodou muita gente, mas também mudou muito o modo da cidade. As coisas não permanecem como antes quando um jovem começa a agir de verdade nas beiradas onde estava a turma da firmeza.
Chamou atenção de Clara de Assis, uma bela e jovem donzela, ‘patricinha’, grande partido. Os dois andaram conversando meios às escondidas sobre algumas coisas pelas quais valia a pena se apaixonarem. Todo mundo achava que Clara era seu crusch; não era não, foi uma ‘amizadona’ daquelas!
Andou exagerando nos gastos e também achou que podia vender produtos da loja de seu pai para fazer uma grana para ajudar quem precisava. Pegou dinheiro e cavalo do pai e investiu para render e poder dar mais esmolas. Levou uma surra homérica do velho. Que não só bateu nele como também o prendeu num cárcere privado dentro de casa. Tinha pai bravo e uma mãe que só chorava e rezava. Pai e mãe o amavam muito; ele sabia disso, mas o coração dele estava inquieto.
Tornou-se um convertido sem precisar ir num encontro da juventude organizado pelo bispado de Assis; porém escutou o que uma cruz estava falando e botou fé. Pregou o Evangelho, shippou uns textos e fez dele a sua iniciação, a sua investidura, o seu modo de ser. A partir daí foi aprendiz e um inovador. Produziu conhecimento em rede escrevendo cartas e outros escritos. Da conexão a comunhão, ficou um jovem religioso sem ser um mala.
Abaixou-se até as vítimas do seu tempo para resgatá-las, por isso reergueu leprosos, pobres, camponeses e capelas abandonadas, porque não tinha este tipo de nojo com coisas estranhas. Gostava demais dos mendigos que para ele não era gente ‘bugada’, mas gente para ser amada. Teve uma leitura crítica da eclesiologia de sua época, mas não saiu e nem abandonou a Igreja. Cativou tantos os jovens, que seus primeiros manos vieram do seu ciclo de amizades e deu acesso a eles ao conhecimento do que era e do que fazia, tudo na base do ‘tamo junto’!
Andou meio escondido nos ermos sem deixar de priorizar as relações humanas; refletia e integrava. Nasceu no século XIII, mas tinha cabeça de século XXI. Fez um caminho espiritual ajuntando o afetivo para não ter um discurso apenas moralista. Não tinha medo da rua, sabia que nas quebradas da comunidade tinha troca e cidadania. Foi político no seu modo: política cria pirâmides, ele criou Capítulos Fraternos, bem democráticos, onde mandou bem o que estava certo.
Não sabia o que era ideologia de gênero, mas há oitocentos anos já distinguiu bem o que era para ser valorizado: o masculino e o feminino. Andou conversando com muçulmanos e globalizou relações de diálogo através de crença e fé. Chama que chama todos para serem otimistas! E no final da vida, Deus tatuou nele as chagas do Amor! Lacrou! Negou o auge, sendo o Menor dos Menores. Um Santo verdadeiramente top!
Imagem de destaque: Frei Vitório e Mariana Rogoski, durante o 2º Encontro do Alverne em 2018.