A coluna do “Em Fraternidade” deste mês de julho recebe com muita alegria a jovem franciscana Aline Vieira. Natural de Minas Gerais, Aline reside atualmente em São Paulo. Participante ativa das Missões e Caminhadas Franciscanas da Juventude, eventos promovidos pelo Serviço de Animação Vocacional (SAV) da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil também integra o Conselho de Juventudes da Província.
Profissionalmente atua na área de enfermagem do Hospital da Cruz Vermelha Brasileira de São Paulo (SP), atendendo a todos os pacientes que foram infectados pelo novo coronavírus. E esse é o intuito da coluna deste mês: falar sobre a realidade de quem está na linha de frente do combate a Covid-19. “Venho partilhar aqui sobre pessoas. Sobre nós que trabalhamos nos hospitais e sobre os pacientes que recebemos diariamente”, destacou.
Para Aline, trabalhar com a finitude da vida o fez pensar sobre a sua extrema importância e o faz entender como a fé é sagrada. “Sempre me emociono quando chego no quarto de um paciente e ele me fala: Deus te abençoe pelo seu serviço”, ressaltou. “Já me peguei rezando umas ‘Aves-Marias’ junto com os pacientes, ou pedindo para a Mãe interceder por mim e por eles”, revelou emocionada ao lembrar que é de família devota a Nossa Senhora Aparecida.
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Começo agradecendo profundamente o convite do Conexão Fraterna, na pessoa do meu querido amigo Frei Augusto. Reitero meu carinho e respeito pelo belíssimo trabalho desenvolvido pelo blog. Este projeto aborda de forma esclarecedora os temas atuais para que nossa juventude esteja sempre bem informada.
Mas o que é e por que nos assusta tanto a Covid-19? Como já é divulgado amplamente, o coronavírus sofreu mutações genéticas dando origem ao novo coronavírus nomeado como Covid-19, que tem um rápido e desenfreado contágio. Já são quase 10 milhões de pessoas infectadas no mundo e mais de 1 milhão no Brasil. Não vou me ater a esses fatos ou ir a fundo sobre o vírus, venho partilhar aqui sobre pessoas. Quais pessoas? Sobre nós que trabalhamos nos hospitais e sobre os pacientes que recebemos diariamente.
Como começa um plantão hospitalar no tratamento da Covid? Chego no hospital e vou direto para o vestiário e assim começa uma rotina diária de higienizar as mãos, trocar minhas roupas por uma roupa do hospital (chamada privativa), troco meus sapatos por um sapato usado apenas no hospital, minha máscara usada na rua por uma específica conhecida por N-95, touca, óculos de proteção, avental impermeável, luvas, ufa, tudo isso antes de chegar perto do paciente.
E depois lá vamos nós atender centenas de pessoas que chegam assustadas, com dor, com falta de ar, e nós, mascarados, apenas com olhos à vista, em meio a torpedos de oxigênio, monitor cardíaco, punção venosa (meio pelo qual os pacientes são medicados direto na veia), inúmeras coletas de exames, tomografias… nesse turbilhão de sentimentos, nós não temos apenas um paciente, temos um ser humano, como nome, família, amigos, medos, inseguranças, trilhando um caminho que parece solitário, uma vez que não se pode receber visitas de familiares. Nós que trabalhamos também ficamos sós, também temos que nos afastar dos nossos entes queridos. Por fim, nós profissionais e pacientes formamos uma nova família, um elo para enfrentarmos juntos a doença.
Diariamente rimos e choramos com nossos pacientes. Quando eles se curam e podem voltar ao lar a sensação de dever cumprido é gratificante. No entanto, quando infelizmente perdemos um paciente o nosso coração dói, choramos, todas as vidas são igualmente importantes. Há casos que acreditamos que o paciente irá sobreviver e de repente ele tem uma recaída e não conseguimos salvá-lo. Temos um caso recente de um paciente que faleceu e entristeceu toda equipe. Era um rapaz jovem, vivia com uma filha de menos de dois anos, parecia que sairia bem, mas a doença venceu a batalha… Chorei, choramos todos, mas temos que continuar nosso plantão, seguimos na batalha com os outros pacientes.
Todos os dias me vejo refletindo sobre o valor da vida, sobre como devemos aproveitar os momentos e as pessoas que amamos. Trabalhar com a finitude da vida me faz pensar como ela é de extrema importância e passa rápido, me faz entender como a fé é sagrada. Sempre me emociono quando chego no quarto de um paciente e ele me fala: Deus te abençoe pelo seu serviço. Ou quando estão rezando o terço. Sendo eu de uma família devota de Nossa Senhora Aparecida, já me peguei rezando umas “Aves-Marias” junto com os pacientes, ou pedindo para a Mãe interceder por mim e por eles. Ou quando estou na UTI e ouço a oração de algum paciente, rezo junto em silêncio.
Às vezes o cansaço é enorme, parece que não há mais esperança, mas tudo se renova quando um paciente se recupera, quando é possível tirar ele de um respirador, quando ele sai da UTI.
Infelizmente muitos não levam a pandemia a sério, pois não conhecem a rotina dentro de um hospital, não fazem ideia do que é não conseguir respirar sozinho ou conseguir se virar na cama, ou ficar ligado ao respirador 24 horas e meses sem ver a família, só vendo “pessoas mascaradas”, como alguns pacientes dizem. Além de levar inúmeras picadas, ficar com seu corpo todo marcado pela infinita coleta de exames.
A rotina é dura, pra mim e para os pacientes. Por isso, informe seus familiares, amigos, tenha você consciência, se cuide, cuide do seu próximo, use máscara, evite aglomerações, se puder fique em casa. Valorize a vida: a sua vida, a vida de quem você ama. Juntos, venceremos!
Abraço fraterno,
Aline Machado Vieira
Que lindo esclarecimento esse relatório e quão abençoada esses seres humanos que trabalham incansavelmente para salvar vidas que Deus abençoe infinitamente suas vidas e que Nossa Senhora Aparecida os cubra com seu Manto Sagrado
Obrigado pelo seu feedback Terezinha! Continue nos acompanhando. Abraço fraterno 😉