São Francisco já nos ensinava em seu tempo: “Pregue o Evangelho, se necessário, use as palavras”. Essa frase marcou profundamente meu relacionamento com uma grande amiga. Sempre que saíamos ela levava o seu copo, sua garrafa, seu canudo de inox. Chegávamos ao lugar, ela delicadamente tirava as coisas da sua bolsa e colocava sobre a mesa. Após o uso, arrumava um lavatório, os higienizava e guardava novamente. Sempre assim, no refeitório do trabalho, na hora do intervalo, nos ambientes públicos.
Ela não falava muita coisa a respeito disso. Lembro apenas de uma frase de indignação após terminar uma refeição na estrada “Nossa, como produzimos lixo, né?”. Ela se referia aos guardanapos, o sachê de açúcar, sachê de molhos, o plástico do guardanapo, o papel que abrigava o salgado ou doce. Andar com ela me fez perceber os meus maus hábitos.
Sempre me considerava uma defensora do meio ambiente porque separava meu lixo em casa, fechava as torneiras e tomava um banho rápido, sem desperdício. Sem nunca me dizer o que devo fazer, ela me ensinou: comprei canudos metálicos, passei a usar menos guardanapos e não usar copos descartáveis. Ainda estou longe de ser uma ambientalista, mas quis contar essa minha história para percebermos como estamos de fato comprometidos com a causa, a partir das nossas próprias ações.
Por esses dias, me deparei numa prova de concurso com uma questão sobre as leis municipais que têm sido aprovadas em grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo sobre a proibição de distribuição de canudos. Alguns artigos questionavam a regulamentação, pois houve aumento considerável no consumo de copos plásticos, o que faz pensar que o problema vai muito além do uso de plástico: está no comportamento das pessoas. Aí é que entra a ECOLOGIA SOCIAL. Você sabe o que isso significa?
Quem iniciou o movimento da ecologia social foi o norte-americano Morray Bookchin (1921-2006). É uma corrente filosófica que veio para questionar e estimular o pensamento crítico da população em questões relacionadas ao meio ambiente. A abordagem vai muito além de protestar contra a emissão de gases na atmosfera. São questões mais profundas, que instigam o popular a questionar de forma mais crítica. Por exemplo: questões relacionadas com a ocupação de territórios de forma desordenada, sem acompanhamento de órgãos públicos e consequentemente sem rede de esgoto, coleta de lixo etc. Nesse caso específico, como pode a Prefeitura do Rio de Janeiro proibir a distribuição de canudos plásticos se mal consegue administrar a questão da moradia para a população que vive em áreas irregulares?
O cuidado com a Casa Comum também está presente de forma cada vez mais nítida em meio a Igreja. Desde a década de 80 a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vem se posicionando frente ao tema através das Campanhas da Fraternidade (CF), em 1986 a CF levou como tema: Fraternidade e Terra. A Igreja cada vez mais atenta ao grito de socorro da nossa irmã terra, tem entrado em discussões homéricas, mas se posicionando: vendo-fulgando-agindo, como foi o caso do Sínodo para a Amazônia em 2019. Nos orgulhamos dessa Igreja, não é? Foi inclusive julgada como político partidária e não recuou, analisou, estudou, escutou e falou. Antes disso ainda, sabiamente, em 2015, o Papa Francisco lançou a Encíclica Laudato Si, trazendo a mensagem da ecologia integral, falando que tudo está interligado, seres humanos e natureza, todos somos parte da criação de um mesmo Deus e precisamos do mesmo cuidado. Esta, acaso, não foi a mensagem de Francisco de Assis, lá no século XII?
Nosso Pai Seráfico vem nos fazer refletir. O Cântico das Criaturas inicialmente composto em 1225, quase moribundo Francisco exalta a criação, chama a natureza de irmã e irmão, louva a Deus e agradece por cada contribuição que é Criação de Deus. São as gentilezas que a natureza nos garante, desde a gênesis.
Jovens, precisamos estar atentos a essas questões! Ativistas como Greta Thunberg e os muitos jovens das Fridays for Future estão aplicando muitas páginas da Laudato Si’, a Encíclica ecológica do Papa Francisco. Precisamos nos posicionar, falar, defender e discutir. Estar diante dos que nos chamam de “pirralhos” e questionar sobre as decisões públicas. Mas e no cotidiano, o que temos feito?
Chegou o momento em que apenas separar o lixo dentro de nossas casas já não é mais suficiente. Franciscanos, sejamos exemplos, pois o testemunho arrasta, mais que palavras.
Abraços,
Mari Rogoski
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