Neste terceiro texto aqui no blog sobre o setembro amarelo, quero não apenas afirmar mais uma vez a importante de falar sobre o assunto, mas mostrar de forma honesta como pode ser estar do outro lado, ser aquele que acolhe quem vem passando por tanto sofrimento.
Recebi o depoimento da Ana Carolina Arantes, que foi voluntária no atendimento do Centro de Valorização da Vida (CVV) e se abriu para nós, contando a sua experiência. Este relato teve autorização da coordenadora da Ana para ser publicado aqui e espero que ele possa quebrar um pouco do tabu que é gerado ao falarmos sobre o suicídio.
Escrevi, reescrevi, apaguei, pensei, pensei de novo. E a conclusão é não tenho como escrever sobre esse trabalho se não for da mesma forma como ele deve ser feito: com o coração e de um coração para o outro.
Quando me voluntariei ao trabalho imaginava que era para apoiar as pessoas e haviam muitas dúvidas e muitas curiosidades. Logo no primeiro dia já tive uma surpresa e, cá entre nós, não parou mais. Nada de atender as pessoas, vamos primeiro aprender.
Entender como apoiar alguém é primeiro aprendizado. O trabalho principal é acolher e após três meses de treinamento estamos aptos ao primeiro atendimento supervisionado. E aí você começa não somente a entender, mas a buscar internamente aprender e vivenciar esse acolhimento na vida. ACOLHER sem julgar, sem projetar, sem opinar. Apenas estar presente e entregue durante o atendimento.
Como todo trabalho, este precisa de dedicação, comprometimento e de seguir as regras. Aprendemos que na natureza cabe de tudo, que cada um é responsável por suas próprias escolhas e aceitamos, por mais que isso não faça sentido para nós. Afinal não é a sua vida, é a do outro.
O primeiro telefonema:
“Alô, CVV, boa noite!”Você passa a ser somente o voluntário e tudo que foi dito ali, fica ali. Porque preservar a história do outro também é acolher. É mágico o sentimento de quando finalizamos um atendimento, realizado com sucesso, que existe a preservação de uma vida. Frustrante quando percebemos que não acolhemos da forma como aquela pessoa precisava.
Algumas coisas se desencontram com nossos valores pessoais e sentimentos, por isso o curso para entendermos, reconhecermos e admitirmos para nós mesmos como nos sentimos em diferentes situações é tão importante. Está longe de ser fácil, mas apenas um sentimento define o que senti: GRATIDÃO.
É quando a frase de Carl Jung ganha vida:
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”
O CVV tem o sigilo como principal regra, então não tenha medo de buscar ajuda.
Se precisar de vida,
LIGUE 188.
Ana Carolina Arantes mora em Volta Redonda no Rio de Janeiro
e foi voluntária do CVV por quatro meses.